Rodeada de pessoas durante toda a vida.
Seus pais eram casados, e ela morava com eles.
Tinha irmãs, tinha amigos, tinha família grande, tinha muitos conhecidos.
E não tinha ninguém.
Como confiar em alguém que não ela mesma?
Antes conversava com a mãe, mas à medida que foi crescendo foi perdendo seu espaço na casa.
Seu pai? Nunca conversou direito com ele. Ele não é má pessoa, ela admite, mas nunca foi de conversar muito.
Das irmãs, apenas uma presente, e geralmente se davam bem, mas não era o bastante.
Amigos? Nunca entenderiam ela em sua complexidade.
Conhecidos nem ao menos a conheciam direito.
Não que alguém conhecesse.
Não que ela conhecesse.
Resolveu tentar. Pq não confiar nos amigos? Tanta gente faz isso, não?
Sangue.
Seu corpo não sangrou, mas a sua alma foi mutilada quando, várias vezes seguidas, fora apunhalada pelas costas.
Decidiu que nunca mais iria confiar em ninguém, mas foi uma mentira.
Deu uma chance, uma última chance, à um amigo que nunca a traiu.
Anos depois, ele morreu.
Muro.
Não podia contar com a mãe, cresceu basicamente sem pai, sua relação com as irmãs não era tão
boa mais, seu amigo se fora, seus amigos não faziam ideia de quem ela era de verdade, seus conhecidos nunca sonhariam com uma pessoa assim.
Fechou-se em seu mundinho, e fechou seu coração para o mundo.
Ela não chora mais, ela não sorri mais com aquela verdade, ela não ama mais.
E então surgiu um outro alguém.
E ela resolveu confiar mais uma vez.
Quanto tempo vai durar até ela se machucar novamente?